Gesualdo: ontem e sempre
Dêem uma escutada nesse madrigal de Gesualdo (alta Renascença, pré-Barroco). A letra é uma “cantada” (em Sampa se diz “xavecada”, creio), mas com “estilo”. A primeira palavra, transportada pr’um contexto quase atual, talvez possa ser traduzida como “belezura”, um vocativo para se dirigir ao objeto do desejo, mulé amada, etc. Essa síntese, nesse madrigal em particular, é notável, o tamanho reduzido da obra remete quase a um formato canção, é o mundo inteiro em duas páginas. Pra cada sílaba do 1o verso, um acorde remetendo a um centro tonal diferente (não cabem num mesmo modo/escala…rs). Depois tem os anjos que levam o tormento para o alto e para bem longe, num redemoinho polirrítmico, no colo de uma virgem maria sonora. (…) Gesualdo desafia a ideia de “progresso”, de “avanço linear” em música porque sua harmonia é muito mais pra frentex do que a dos clássicos (quase 200 anos depois) ou até do que a dos românticos (quase 300). Que be-le-zu-ra!!!